quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Decidir


“O que é então o ser humano? É o ser que sempre decide o que ele é. É o ser que inventou as câmaras de gás, mas é também aquele ser que entrou nas câmaras de gás, ereto, com uma oração nos lábios.”

            Decidir é uma palavra que assusta a muitos. Melhor é que outros decidam sem precisar assumir os rumos da própria vida com seus desafios, projetos, sonhos, decepções, anseios... Mas sabemos que também há alegrias, encontros, paz, amor, esperanças. Diante de circunstâncias dolorosas que se colocam na caminhada humana assumir, com sentido e dignidade, o que é colocado a frente de nós parece um desafio imenso e sem perspectivas de futuro. Victor Frankl, prisioneiro num campo de concentração, na Segunda Guerra, em seu livro “Em busca de sentido” narra um fato que nos ajuda na busca do sentido da vida, até no sofrimento, pois ele diz que “se a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá”.

            Ele nos conta que o dia fora horrível. Um prisioneiro que morria de fome arrombou o depósito para roubar uns quilos de batatas. Alguns prisioneiros descobriram o “assaltante”. A direção do campo também descobriu e exigiu a entrega do delinquente caso contrário todos teriam de jejuar durante um dia. Dois mil e quinhentos companheiros decidiram jejuar a entregar o companheiro para se enforcado. Ao chegar à noite nesse dia de jejum, todos estavam estirados no barracão, tomados de depressão geral. O estado de espírito atingiu seu ponto mais baixo. O chefe do grupo, pessoa sábia, improvisou uma conversa. Falou de tantos companheiros que haviam morrido nos últimos dias e o motivo dessas mortes seria de uma única razão: entregar os pontos. Victor foi convidado a falar, mas ele mesmo diz que seu estado de espírito não serviria para nada, mas juntou forças, pois todos precisavam agora era de ânimo.

            Ele diz que começou falando do futuro que só podia parecer desesperador. As chances de sobrevivência eram mínimas. Disse que não perderia a esperança nem desistiria de lutar, pois ninguém conhece o futuro. Nenhuma pessoa sabe o que talvez lhe ocorrerá dentro de uma hora. Não falou somente do futuro e da penumbra em que esse felizmente estava envolto, nem ficou apenas no presente com todo seu sofrimento. Falou também do passado, com todas suas alegrias, e da luz que ele ainda lançava para dentro das trevas de seus dias. Aquilo que realizamos na plenitude de nossa vida passada, na abundância de suas experiências, essa riqueza interior nada nem ninguém nos pode tirar. Mas não só o que vivenciamos, também aquilo que fizemos, aquilo que de grandioso pensamos, e o que padecemos, tudo isso salvamos para a realidade, de uma vez por todas. Essas experiências podem pertencer ao passado, justamente no passado ficam asseguradas para toda a eternidade. Pois o passado é uma dimensão do ser, quem sabe, a mais segura.

            Ele finaliza dizendo que a vida está repleta de oportunidades para dotá-la de sentido. A vida humana tem sentido sempre e em todas as circunstâncias, e que esse infinito significado da existência também abrange sofrimento, morte e aflição. Pediu que seus companheiros olhassem de frente a situação em que se encontravam, por mais difícil que ela fosse, e não desesperassem, mas recobrassem o ânimo, cientes de que, mesmo perdida, a luta deles, seus esforços não perderiam seu sentido e dignidade. Cada um deles, nesses momentos difíceis se encontra sob o olhar desafiante de um amigo ou de uma mulher, de um vivente ou de um morto – ou sob o olhar de Deus. Ele espera que não o decepcionemos e que saibamos sofrer e morrer, não miseravelmente, mas com orgulho. Dar sentido a vida. Dar sentido até ao sacrifício. Viver e morrer com um sentido. Um profundo sentido. Ninguém quer passar a vida sem um sentido. Essas foram os sentidos de suas palavras.

            O que a vida espera de nós? Ela que nos dirige perguntas a toda a hora. Precisamos responder a elas. Viver com responsabilidade respondendo as perguntas da vida. É uma exigência e com ela o sentido de nossa existência. É para cada pessoa e para todos os momentos. A vida é algo concreto, de modo que suas exigências são bem concretas. Em cada situação somos chamados a uma atitude. Quando encontro o sentido de minha vida descubro que ela é única e original. É minha resposta que ajudará o que me cerca. É minha responsabilidade não fugir. Se um ser humano na mais degradante miséria humana que foram os campos de concentração não desistiu, apesar de tudo ao seu redor chamar a desistência da vida ele encontrou forças, o que me impede?

            No texto escrito anteriormente dizia trecho da música “O que eu penso a respeito da vida é que um dia ele irá perguntar...” A deixe perguntar. Converse com ela. Ame com toda tua força. Sorria para a vida. Dance com ela flutuando em sua companhia. Celebre esse abraço diário que ela te dá. Seja responsável para com a vida e com certeza a felicidade será teu horizonte.

 

Abraço a todos.

 

A vida é esse barato, você ganha 80 anos dela e ainda reclama! Ziraldo

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