“O que é então o
ser humano? É o ser que sempre decide o que ele é. É o ser que inventou as
câmaras de gás, mas é também aquele ser que entrou nas câmaras de gás, ereto,
com uma oração nos lábios.”
Decidir é uma palavra que assusta a
muitos. Melhor é que outros decidam sem precisar assumir os rumos da própria
vida com seus desafios, projetos, sonhos, decepções, anseios... Mas sabemos que
também há alegrias, encontros, paz, amor, esperanças. Diante de circunstâncias
dolorosas que se colocam na caminhada humana assumir, com sentido e dignidade,
o que é colocado a frente de nós parece um desafio imenso e sem perspectivas de
futuro. Victor Frankl, prisioneiro num campo de concentração, na Segunda
Guerra, em seu livro “Em busca de sentido” narra um fato
que nos ajuda na busca do sentido da vida, até no sofrimento, pois ele diz que “se a vida tem sentido, também o sofrimento
necessariamente o terá”.
Ele nos conta que o dia fora
horrível. Um prisioneiro que morria de fome arrombou o depósito para roubar uns
quilos de batatas. Alguns prisioneiros descobriram o “assaltante”. A direção do
campo também descobriu e exigiu a entrega do delinquente caso contrário todos
teriam de jejuar durante um dia. Dois mil e quinhentos companheiros decidiram jejuar
a entregar o companheiro para se enforcado. Ao chegar à noite nesse dia de
jejum, todos estavam estirados no barracão, tomados de depressão geral. O
estado de espírito atingiu seu ponto mais baixo. O chefe do grupo, pessoa sábia,
improvisou uma conversa. Falou de tantos companheiros que haviam morrido nos
últimos dias e o motivo dessas mortes seria de uma única razão: entregar os
pontos. Victor foi convidado a falar, mas ele mesmo diz que seu estado de
espírito não serviria para nada, mas juntou forças, pois todos precisavam agora
era de ânimo.
Ele diz que começou falando do
futuro que só podia parecer desesperador. As chances de sobrevivência eram
mínimas. Disse que não perderia a esperança nem desistiria de lutar, pois
ninguém conhece o futuro. Nenhuma pessoa sabe o que talvez lhe ocorrerá dentro
de uma hora. Não falou somente do futuro e da penumbra em que esse felizmente
estava envolto, nem ficou apenas no presente com todo seu sofrimento. Falou
também do passado, com todas suas alegrias, e da luz que ele ainda lançava para
dentro das trevas de seus dias. Aquilo que realizamos na plenitude de nossa
vida passada, na abundância de suas experiências, essa riqueza interior nada
nem ninguém nos pode tirar. Mas não só o que vivenciamos, também aquilo que
fizemos, aquilo que de grandioso pensamos, e o que padecemos, tudo isso
salvamos para a realidade, de uma vez por todas. Essas experiências podem
pertencer ao passado, justamente no passado ficam asseguradas para toda a
eternidade. Pois o passado é uma dimensão do ser, quem sabe, a mais segura.
Ele finaliza dizendo que a vida está
repleta de oportunidades para dotá-la de sentido. A vida humana tem sentido
sempre e em todas as circunstâncias, e que esse infinito significado da
existência também abrange sofrimento, morte e aflição. Pediu que seus
companheiros olhassem de frente a situação em que se encontravam, por mais
difícil que ela fosse, e não desesperassem, mas recobrassem o ânimo, cientes de
que, mesmo perdida, a luta deles, seus esforços não perderiam seu sentido e
dignidade. Cada um deles, nesses momentos difíceis se encontra sob o olhar
desafiante de um amigo ou de uma mulher, de um vivente ou de um morto – ou sob
o olhar de Deus. Ele espera que não o decepcionemos e que saibamos sofrer e
morrer, não miseravelmente, mas com orgulho. Dar sentido a vida. Dar sentido
até ao sacrifício. Viver e morrer com um sentido. Um profundo sentido. Ninguém
quer passar a vida sem um sentido. Essas foram os sentidos de suas palavras.
O que a vida espera de nós? Ela que
nos dirige perguntas a toda a hora. Precisamos responder a elas. Viver com
responsabilidade respondendo as perguntas da vida. É uma exigência e com ela o
sentido de nossa existência. É para cada pessoa e para todos os momentos. A
vida é algo concreto, de modo que suas exigências são bem concretas. Em cada
situação somos chamados a uma atitude. Quando encontro o sentido de minha vida
descubro que ela é única e original. É minha resposta que ajudará o que me
cerca. É minha responsabilidade não fugir. Se um ser humano na mais degradante
miséria humana que foram os campos de concentração não desistiu, apesar de tudo
ao seu redor chamar a desistência da vida ele encontrou forças, o que me
impede?
No texto escrito anteriormente dizia
trecho da música “O que eu penso a
respeito da vida é que um dia ele irá perguntar...” A deixe perguntar.
Converse com ela. Ame com toda tua força. Sorria para a vida. Dance com ela
flutuando em sua companhia. Celebre esse abraço diário que ela te dá. Seja
responsável para com a vida e com certeza a felicidade será teu horizonte.
Abraço
a todos.
A vida é esse barato, você ganha 80 anos dela e ainda reclama!
Ziraldo